Estádio do Jamor

O estádio do Jamor é uma vergonha nacional

"Integrado na comitiva dos membros do painel de palpites do semanário "Expresso", assisti, este domingo, a mais uma final da Taça de Portugal no Jamor. Nesta simpática companhia marquei presença nas últimas sete finais, a que posso juntar mais uma mão cheia de vezes que lá fui antes, quando o F. C. Porto também era finalista.Depois destas várias participações, antes e após o 25 de Abril, julgava eu que já tinha visto tudo. Nunca lá vi um porco a andar de bicicleta, mas ainda no último domingo vi uma série de gente a chamar Maria Elisa e Judite Sousa à Fátima Campos Ferreira e fez agora um ano que vi um grupo de rapazes, normalmente com salários em atraso, a derrotar o todo-poderoso Benfica.Não cuidando do jogo em si, que teve um desfecho natural, aquilo a que assisti antes do apito inicial convenceu-me de vez que nunca devemos pensar que já vimos tudo. Mesmo que um dia alguém veja o Scolari a ir de "bicicleta" para a Alemanha, quando podia levar um "avião a jacto", como Quaresma.Agora que até já um Dragão de Ouro entregou a Taça na tribuna de honra do Jamor, era urgente fechar o ciclo e acabar de vez com esta indignidade de marcar a final da segunda maior prova portuguesa para este parque de piqueniques.Durante mais de uma hora, acho que nunca fui tão apalpado na vida, e quando cheguei à apalpadela final e oficial a cargo de um dos centenas de polícias destacados para a coisa, é evidente que já não podia ter mais nada do que a carteira e o bilhete, preservados com unhas e dentes.Durante os últimos anos, têm sido esgrimidos muitos argumentos a favor da não utilização deste campo para a final da Taça. Nos primórdios da contestação, reconheço que havia argumentos fortes, mas porventura não suficientes e decisivos. Recordo-me, por exemplo, de uma final entre dois clubes do Norte que puseram em causa a necessidade de deslocação à capital.O decorrer dos anos, com a construção de 10 novos estádios, tornou insuportáveis as diferenças abissais entre o anacrónico Estádio do Jamor e as condições de conforto e segurança que hoje é possível experimentar em muitos estádios, do Minho ao Algarve.Claro que o Jamor não tem culpa que a incompetência da organização torne tudo ainda mais complicado, mas é certo que nem uma boa organização tem hoje possibilidade de disfarçar as carências do espaço.A falta de profissionalismo dos voluntários recrutados ao IPJ, que nos obrigou a dar várias voltas ao campo antes de encontrar o lugar (mais a novidade de ter visto pela primeira vez um bilhete de espectáculo sem a hora do respectivo início), não ajuda, mas não é o pior.Como sempre defendi que nestas coisas o Estado não deve meter o bedelho, fico à espera do dia em que Gilberto Madail volte a poder pensar noutra coisa que não o "organograma" da equipa técnica das selecções (tema de tão elevada importância, que ainda ontem mereceu honra de vários minutos, em directo, nos telejornais da TV…) para encontrar a boa solução. Qualquer que ela seja, está garantido que é melhor que esta.Aquilo que devia ser uma festa transforma-se num pesadelo e as provações por que todos passam à entrada é que funcionam como atenuante dos nervos que se descontrolam com mais facilidade nas horas seguintes. Com cavalos ou com cavalgaduras, a recepção aos milhares de adeptos que se deslocam de todo o país não pode voltar a repetir-se nos termos do último domingo e não descortino outra solução que não seja a de pôr uma pedra sobre o assunto.

Como todos sabemos, pedras é o que lá não falta."

By Manuel Serrão in Jn-17/05/2006